Policiais ganhavam menos de R$ 10 mil e movimentaram mais de R$ 10 milhões

Segundo a Polícia Federal, o agente Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo, recebia da Polícia Civil de São Paulo um salário líquido de R$ 5.165,10, mas movimentou R$ 16.199.112,03 em suas seis contas bancárias entre 1º de setembro de 2017 a 23 de agosto de 2023.

No mesmo período, o investigador Valmir Pinheiro, 55, conhecido como Bolsonaro, parceiro de Xixo, ganhava R$ 7.000 líquidos por mês e registrou em cinco contas bancárias transações financeiras no valor de R$ 13.582.438,62. Eles eram do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico).

O juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, decretou a prisão preventiva dos dois policiais civis. Ambos são investigados por corrupção passiva e associação à organização criminosa.

Investigação aponta para propinas

A PF e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), subordinado ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo, afirmam que Xixo e Bolsonaro receberam R$ 800 mil de dois narcotraficantes responsáveis pelo envio de toneladas de cocaína à Europa, para não levar investigações adiante.

O pagamento da propina foi descoberto após análise do telefone celular de André Roberto da Silva, preso em novembro de 2021. Ele e João Carlos Camisa Nova Júnior, foram acusados de tentar exportar por navio 2,7 toneladas de cocaína para o Velho Continente em 2020. A droga foi apreendida.

Peritos da PF analisaram os áudios do celular encontrado com André no dia da prisão dele. As investigações mostram que os dois narcotraficantes foram responsáveis por “providenciar o pagamento de vantagem indevida no valor de R$ 800 mil aos policiais civis Valdenir e Valmir em novembro de 2020”.

O agente e o investigador foram alvo da Operação Face Off, deflagrada no último dia 3 pela PF e o Gaeco. Xixo acabou preso. Há informações extraoficiais de que Bolsonaro, estaria foragido. Ele ganhou esse apelido por causa da semelhança com o ex-presidente da República.

Os policiais civis tiveram os sigilos bancário, telefônico e telemático quebrados por ordem judicial. A PF apurou que em apenas uma conta no Santander, Bolsonaro movimentou R$ 10.679.899,74. Xixo movimentou R$ 9.625.838,94 só em uma conta no Banco do Brasil.

A Justiça determinou o bloqueio dos bens e do dinheiro depositado em contas bancárias por Xixo, Bolsonaro e também de outros investigados no mesmo inquérito por lavagem de capitais no limite de R$ 15 milhões.

Seguranças de pivô de guerra no PCC

Os federais descobriram que os dois policiais civis viajaram recentemente para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, país produtor de cocaína, onde integrantes da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) estão foragidos.

Nos bastidores de departamentos da Polícia Civil correm comentários de que Xixo e Bolsonaro também cuidavam da segurança pessoal de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ameaçado de morte pelo “tribunal do cr1me” do PCC, e eram muito bem pagos por ele.

Vinícius é acusado de matar dois narcotraficantes do alto escalão da organização. As mortes aconteceram em dezembro de 2021 no bairro do Tatuapé, zona leste paulistana. E geraram uma guerra sangrenta na maior facção criminosa do país.

O empresário teria investido em criptomoedas e supostamente desviado R$ 500 milhões de Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, um dos narcotraficantes mortos. Vinícius nega o duplo assassinato e sustenta que tinha apenas negócios imobiliários com a vítima.

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, por meio de seus advogados, informou à reportagem que os policiais civis Valdenir Paulo de Almeida e Valmir Pinheiro nunca fizeram parte de sua equipe de segurança pessoal

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Valdenir e Valmir. O espaço continua aberto para manifestações dos defensores de ambos. O texto será atualizado se houver um posicionamento.

 

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