Nova substância semelhante à anfetamina é descoberta em vapes no Brasil
Os cigarros eletrônicos, comumente conhecidos como vapes, estão frequentemente sob os holofotes por serem considerados inofensivos. No entanto, a realidade é bem mais preocupante. Esses dispositivos contêm centenas de substâncias, muitas delas tóxicas, e novos estudos revelam ainda mais perigos.
No Brasil, a venda de cigarros eletrônicos é proibida, mas isso não impede que entrem ilegalmente pelas fronteiras, abastecendo um mercado milionário. A falta de regulamentação dificulta o conhecimento exato das substâncias contidas nesses dispositivos, e muitas delas não são sequer listadas nas embalagens.
Estudo Revela Presença de Substância Semelhante à Anfetamina
Para entender os riscos, a Universidade Federal de Santa Catarina e a Polícia Científica do estado conduziram uma pesquisa. Eles identificaram a octodrina, uma substância da mesma família da anfetamina, em três marcas diferentes de vapes no Brasil. Esta descoberta é alarmante, pois a octodrina pode aumentar o potencial de vício e causar sérios danos à saúde.
Além da octodrina, outras substâncias como glicerol, propilenoglicol, formaldeído, acetaldeído, acroleína, acetona e nicotina foram detectadas. A presença dessas substâncias tóxicas e, em alguns casos, cancerígenas, levanta sérias preocupações de saúde pública.
Quais São os Perigos dos Cigarros Eletrônicos?
A octodrina atua no sistema nervoso central, causando agitação e afetando o sistema cardiovascular, levando à taquicardia. A pesquisadora Camila Marchioni alerta que essa substância pode tornar ainda mais difícil parar de fumar, aumentando o risco de dependência.
A presença de outras substâncias tóxicas agrava ainda mais os riscos;
Consumidores estão inalando substâncias perigosas sem conhecimento;
Acredita-se erroneamente que estão inalando apenas vapor d’água.
Os resultados da pesquisa são preliminares, mas já levantam sérias preocupações. A quantidade exata de octodrina em cada dispositivo ainda precisa ser determinada, mas a sua identificação já é motivo de alerta.
Como lidar com a proibição e o mercado ilegal?
Embora os cigarros eletrônicos sejam proibidos pela Anvisa, a facilidade de acesso a esses dispositivos é impressionante. Segundo o IBGE, quase 17% dos estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram o cigarro eletrônico. Isso mostra a crescente pressão sobre os órgãos de fiscalização para conter o aumento do mercado ilegal.
Em termos de enforcement, o cenário atual é complicado. Em julho de 2024, a polícia civil do Espírito Santo prendeu um dos maiores vendedores de cigarros eletrônicos do estado, com vendas que ultrapassaram R$ 500 mil em pouco mais de dois meses. A Receita Federal também tem intensificado operações de apreensão desses dispositivos, com resultados significativos, mas que ainda não conseguem conter completamente o fluxo ilegal.
O que dizem os especialistas sobre os cigarros eletrônicos?
Adriana Gioda, pesquisadora da PUC do Rio de Janeiro, destaca o desafio de identificar o que realmente está presente no vapor dos cigarros eletrônicos no Brasil. A falta de tecnologia adequada e a burocracia são obstáculos significativos para a análise eficaz desses dispositivos.
Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), reitera que o vício em cigarro eletrônico é um risco de saúde pública, especialmente porque contém nicotina em quantidades elevadas. Ela enfatiza que o cigarro eletrônico não é uma alternativa segura ao cigarro tradicional.
No Brasil, a Evali, doença pulmonar associada aos cigarros eletrônicos, não é de notificação obrigatória, levando a subnotificações. Até agora, foram registrados nove casos, segundo a Anvisa. A situação complica ainda mais quando consideramos que muitos usuários não têm conhecimento das substâncias perigosas que estão consumindo.
Com a crescente popularidade entre os jovens e a falta de controle sobre as substâncias presentes nos vapes, há um consenso entre os especialistas de que medidas mais rigorosas e campanhas de conscientização são urgentes. A saúde pública está em jogo, e a sociedade precisa estar ciente dos riscos que os cigarros eletrônicos representam.