Nenhuma praga chegará à nossa tenda?

“Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido.” (Salmos 91.7)

Esse mesmo salmo também diz que “Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.” (vers. 10)

Muitas pessoas não entendem quando algum mal ou praga chega até suas vidas e o motivo pelo qual foram atingidas, afinal, o salmo diz “não serás atingido”. Será que Deus nem sempre nos guarda em todos os caminhos? (vers. 11). Vamos ao contexto:

De acordo com o teólogo Luiz Sayão, em seu programa Rota 66, a ideia é que, qualquer que seja a origem do mal, quer seja explicável pelas nossas conclusões de causa e efeito, quer seja de origem maligna, Deus é a nossa proteção garantida.

Outro teólogo que também explica esse salmo é o Augustus Nicodemus. Segundo ele, o termo “mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita” está se referindo ao cenário de guerra, quando os soldados caíam ao serem atingidos, mas o servo de Deus se livrava da morte.

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Alguns estudiosos também sugerem que o texto mostra a evolução de uma calamidade. Primeiro, são mil os derrubados e depois uma miríade, que são 10 mil.

Aqui, não é a quantidade exata que está em pauta, mas o crescimento rápido do número de pessoas que são atingidas, seja numa guerra ou por meio de uma praga, como uma pandemia, por exemplo.

Outro detalhe interessante no texto é quando ele diz “ao teu lado e à tua direita”, isso mostra que o perigo está bem perto, praticamente colado à pessoa.

Nicodemus diz que as promessas feitas nesse salmo, primeiramente, foram para o povo de Israel que estava sendo tratado em particular, como nação escolhida. O pastor alerta que o Salmo tem sido erroneamente utilizado em nossos dias.

Veja que até mesmo o diabo usou esse salmo, distorcendo a Palavra, para tentar Jesus no deserto:

“Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra.” (Mateus 4.5-6)

O que o diabo usou como argumento, está no versículo 11, do Salmo 91.

Lembra do que Jesus respondeu?

“Também está escrito: Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus”. (Mateus 4.7)

Jesus citou Deuteronômio 6.16.

Segundo Nicodemus, Jesus espiritualizou o Salmo 91, mostrando que ele não deveria ser compreendido de forma literal. Não é porque o salmo diz “Você pisará o leão e a cobra” (vers. 13) que sairemos por aí, literalmente, pisando em leões e cobras. Até porque se fizermos isso, certamente seremos atacados e picados. O Salmo 91, em nosso tempo, deve ser compreendido como uma proteção espiritual, assim como a armadura de Deus que é citada em Efésios 6.

Essa promessa “tu não serás atingido” faz parte do plano espiritual em nossas vidas e é exclusiva para os justos. Perceba que o salmo começa dizendo “aquele que habita no esconderijo do Altíssimo pode dizer ao Senhor” (vers. 1).

Habitar é diferente de visitar ou estar de passagem, ou seja, primeiro é preciso ter intimidade com Deus. E quanto ao esconderijo, em nosso contexto, está se referindo a Jesus Cristo. Quem se refugia no filho de Deus e coloca a sua esperança Nele se sentirá seguro. Ou seja, quem se refugiar no “lugar secreto” não será encontrado pelo inimigo.

A sua “tenda” não será atingida. Tenda no espiritual não é a sua casa na terra, mas você por dentro, como templo do Espírito Santo, o seu espírito, a sua vida e a sua consciência transformada em Cristo. Nenhum “mal” te sucederá.

Entenda que o conceito de mal na Bíblia é diferente do nosso. Esse mal não é a doença, a morte ou a dor. O grande mal desse salmo não é aquele que mata o corpo, mas aquele que corrompe a alma, a mente e o caráter. O mal é aquele que mata o amor, a alegria, a fé e a esperança dentro dos corações.

Sobre os termos encontrados no Salmo, vamos analisar alguns:

Laço do passarinheiro ou do caçador – é o mesmo que cilada do diabo ou armadilha, citado em Efésios 6. Trata-se de uma metáfora.

Peste perniciosa – peste é uma doença e a palavra “perniciosa” quer dizer “prejudicial” que causa danos, ou seja, uma doença ruim, que pode matar. Por isso, algumas traduções dizem veneno mortal.

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Espanto noturno ou pavor da noite – são perigos que não podem ser vistos, que chegam de surpresa. Os imprevistos da vida. Naquela época, o exército inimigo poderia atacar durante a noite ou animais selvagens poderiam surpreender as pessoas na escuridão. Podemos entender, dentro do nosso contexto, como uma doença ou problema que surge de repente, e que não tinha como prever.

E isso vale no plano físico ou espiritual. Assaltos e perdas repentinas também podem ser considerados. Além disso, o pavor da noite pode ser o medo, algo apenas gerado na mente humana ou na imaginação.

Flecha ou seta que voa de dia – são perigos reais, que podem ser vistos. Aqui também podemos recordar das “setas inflamadas do inimigo” citadas em Efésios 6. Naquela época, isso era literal, flechas com fogo eram lançadas pelos soldados durante um combate. Mas em nossos dias, esse termo deve ser compreendido no espiritual.

As flechas podem ser pensamentos ou ideias malignas que são lançadas sobre a nossa mente. Quem estiver sem o “capacete da salvação” poderá ser atingido. Fora isso, no plano físico, as flechas podem ser enviadas através das pessoas ao nosso redor, de várias formas: palavras rudes, mentiras, inveja, falso testemunho e até por traição.

Peste que anda na escuridão ou se move sorrateira nas trevas – são perigos vindos do mundo das trevas, por parte do maligno.

Praga que devasta ou assola ao meio dia – período de luz total. Não são armadilhas, nem imprevistos, mas coisas que acontecem debaixo da vontade de Deus. Por exemplo, a morte de uma pessoa que amamos.

Para resumir:

Perceba que o texto do Salmo 91 é cheio de metáforas. Até na forma como Deus protege. “Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro.” (vers. 4). Se lermos o Salmo espiritualmente, ele fará muito mais sentido. Porque se essa proteção total no mundo físico fosse real, nenhum dos discípulos, por exemplo, teriam morrido da forma como morreram e nem teriam enfrentado todas as dificuldades que enfrentaram. A Bíblia fala sobre isso:

“Experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.” (Hebreus 11.36-38)

Esse capítulo do livro de Hebreus fala justamente sobre a fé. Diz que pela fé, os antigos alcançaram o testemunho, citando Abel, Enoque, Noé, Moisés, Abraão e até Sara que ficou grávida mesmo sendo idosa.

Foram pessoas que viveram os milagres de Deus e também experimentaram perigos, doenças e pragas. O povo de Israel também é citado por ter atravessado o mar Vermelho, mas a Bíblia conta também sobre a humilhação e o tempo da escravidão que enfrentaram no Egito.

O que tudo isso quer dizer?

A proteção citada no Salmo 91, nem sempre deve ser entendida como livramento total, porque a proteção de Deus não nos isenta de danos físicos. A abundância de dias, prometida no versículo 16, tem a ver com a vida após a morte física, porque a maioria dos discípulos morreram jovens. O próprio Jesus morreu com 33 anos.

Então tudo depende dos planos divinos para as nossas vidas. Deus pode nos livrar de um problema, mas também pode permitir que o enfrentemos. Podemos ser atacados no plano físico, mas estaremos protegidos no espiritual. E ainda que morrermos, viveremos.

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês tu isso?” (João 11.25-26)

Entendeu a essência da proteção do Salmo 91? Quando Deus diz “tu não serás atingido” Ele está falando muito mais com o nosso espírito do que com a nossa carne. Porque a maior promessa da Bíblia não é a vida aqui nesse mundo, mas na eternidade.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)

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Sendo assim, termino esse estudo desejando a você descanso à sombra do Onipotente e que Ele seja sempre o seu refúgio e a sua fortaleza. Que as asas Dele te cubram e te protejam de todo o mal e que a sua tenda jamais seja atingida por praga alguma e que os seus caminhos sejam guardados pelos anjos do Senhor.

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