Crise sem precedentes: Cuba enfrenta déficit fiscal astronômico

Ilha socialista fecha o ano com déficit de 18,5% — o maior do mundo, com exceção da Ucrânia. Regime anunciou um novo pacote de medidas com aumento de preços e impostos sobre serviços básicos como água, gás, transporte e energia

O cenário econômico de Cuba para 2024 é desolador. Segundo um comparativo com o último relatório do FMI, a ilha tem o maior déficit fiscal do mundo, excluindo a Ucrânia. O próprio regime cubano admitiu que o déficit estimado é de 18,5% do PIB, um valor significativamente mais alto do que o de outros países, exceto a Ucrânia, com 30,3%. Este déficit é o segundo pior da história de Cuba, superado apenas pela queda de 1993, durante o chamado Período Especial. Este período ocorreu após a dissolução da União Soviética e o fim dos subsídios que mantinham funcionando a combalida economia cubana durante os primeiros 30 anos da ditadura comunista.

O economista cubano Pedro Monreal explica que este déficit é consideravelmente maior que todos os déficits atuais do mundo, exceto no caso da Ucrânia. A situação é alarmante para credores e investidores, já que o déficit de Cuba mais que dobra o déficit internacional da Argélia, o segundo maior após a Ucrânia. Nenhum outro déficit reportado pelo FMI ultrapassou 8% do PIB. Monreal destaca que os mercados em CUP (moeda cubana) e em divisas não funcionam de maneira isolada, apesar das suposições econômicas oficiais.

Monreal também critica a proposta de orçamento do regime cubano para 2024, argumentando que a situação de déficit elevado contraria o discurso oficial sobre a estabilização macroeconômica em Cuba. Considerando o “déficit galáctico”, ele sugere que reduzir a inflação não é uma prioridade para o governo.

Até mesmo o regime comunista entende a situação devastadora da economia. O governo anunciou um novo pacote de medidas com aumento de preços e impostos sobre serviços básicos como água, gás, transporte e energia. O primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, declarou insustentável a continuação dos subsídios a esses serviços. Além disso, a “libreta de racionamento”(uma espécie de “ração” que o governo dá aos cubanos), que representava a única fonte de acesso a alimentos com preços controlados pela maioria da população, foi eliminada, conforme noticiou o jornal independente “14ymedio”.

As previsões de gastos para 2024 são preocupantes. O ministro das Finanças cubano, Vladimir Regueiro, detalhou os números concretos do déficit fiscal previsto: 147.391 milhões de pesos, um valor superior ao estimado anteriormente de 49.027 milhões. Este déficit resulta da arrecadação de receitas líquidas de 333.316 milhões e de despesas totais de 480.707 milhões. Além disso, está prevista uma dívida de 201.760 milhões de pesos, incluindo as amortizações de dívidas do ano e os “financiamentos aprovados a bancos e entidades devido à desvalorização do peso cubano”. Não precisa ser um gênio da economia que gastos maiores do que as receitas de forma reiterada e persistente nunca geraram uma nação saudável em termos econômicos.

Estes números reforçam perspectivas terríveis para a economia cubana. Tão grave é a situação que, se há dois anos a agência de classificação Moody’s avaliou o risco de crédito de Cuba em um nível muito alto (Caa2), apenas atrás de Belize, Equador e Suriname, recentemente optou por retirar a ilha de suas listas, alegando “informação insuficiente ou inadequada para manter as classificações”.

O Ministro da Economia e vice primeiro-ministro, Alejandro Gil, reconheceu que o PIB de Cuba se contrairá entre 1% e 2% em 2023, com uma inflação próxima a 30%; mas atribui o desastre não à gestão do governo cubano da crise, mas ao “recrudescimento do bloqueio” dos EUA.

Esses dados, juntamente com as medidas anunciadas, pintam um quadro sombrio para a economia cubana, marcado por um déficit fiscal elevado, inflação galopante e medidas de austeridade sem reformas econômicas apropriadas. A abordagem do regime cubano sugere irresponsabilidade fiscal ainda em níveis superiores ao que ocorre no Brasil e sem nenhuma mudança do rumo econômico que favoreça um ambiente de negócios saudável.

Vale observar que há uma enorme diferença entre os cortes de gastos propostos por Javier Milei na Argentina e os implementados pelo governo cubano. Enquanto Milei, com sua postura pró-livre iniciativa, propõe cortes de gastos como parte de uma estratégia para reestruturar a economia argentina em direção a um modelo mais liberal e orientado para o mercado, em Cuba, os cortes são uma resposta desesperada à incapacidade econômica crônica da ditadura comunista. Não há indicação de uma mudança de modelo econômico em Cuba; ao contrário, os cortes são mais um sintoma da persistência do regime em suas políticas econômicas falidas, que continuam a atormentar a vida dos cubanos.

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