Adolescente que teve membros amputados sofreu descarga elétrica equivalente a 8 mil volts; entenda os impactos no corpo

Especialistas ouvidos pelo g1 apontaram que Rafael Ferreira, de 16 anos, poderia ter morrido. Ele mora em Bertioga (SP), mas sofreu acidente em Santos enquanto acompanhava o pai em um serviço. Família junta recursos para deixar casa acessível ao jovem.

O choque levado pelo adolescente, de 16 anos, que teve os dois braços, a perna direita e parte do pé esquerdo amputados após encostar uma barra de ferro no fio de alta tensão de um poste poderia tê-lo levado à morte, de acordo com especialistas ouvidos pelo g1. Eles explicaram o efeito e danos que a corrente elétrica, em diversas voltagens, pode causar no corpo das pessoas. (veja mais abaixo)

Rafael Ferreira está internado na Santa Casa de Santos, sem previsão de alta médica, desde o acidente, que ocorreu há quase três meses. O menino estava ajudando o pai a desentupir um cano. Com um pedaço de ferro em mãos, o jovem subiu em um muro a uma altura de três metros e, sem notar o fio, encostou a barra na rede elétrica.

“Muitos morrem com o choque nessa intensidade. A criança [Rafael] teve sorte”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) Armando Lobato.

A pedido da equipe de reportagem, o médico Armando Lobato e o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Alexandre Shozo, explicaram os danos que um choque de alta tensão provoca no corpo humano. Confira:

➡️Contato com a fiação

Segundo Alexandre Shozo, como o ferro é um condutor elétrico, é como se o adolescente tivesse encostado as mãos nos fios de alta tensão. “A corrente elétrica [saiu do poste e] passou por todos os membros [do corpo]”, explicou o especialista.

➡️Volts

O professor fez uma ilustração para o g1 para explicar o volt, que é o potencial de transmissão de energia (veja abaixo).

Professor de Engenharia Elétrica Alexandre Shozo explicou os volts do acidente que levou um menino de Bertioga (SP) amputar os membros — Foto: Alexandre Shozo

O chão está em 0, sem energia, enquanto todos os fios do poste, as linhas de transmissão de alta tensão, estão em 13,8 mil volts — esse é geralmente o valor típico . Essa grande diferença de potencial produz uma corrente elétrica mais elevada.

“As mãos estavam em contato com a rede elétrica e os pés com a terra. Portanto, o corpo ficou submetido a aproximadamente 8 mil volts”, afirmou Shozo que explicou ainda que o número varia conforme a resistência elétrica do corpo de cada pessoa.

➡️ Síndrome da queda

O médico Armando Lobato explicou à equipe de reportagem que, ao receber um choque de alta tensão, a vítima é arremessada para longe da fonte de eletricidade. “Como se voasse”, afirmou o médico.
No caso de Rafael, o pai dele José Ferreira, de 60 anos, que trabalha como ajudante de pedreiro, conseguiu impedir que o garoto caísse no chão.

➡️Resgate

De imediato, segundo o médico, a vítima precisa ser levada para um hospital com Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No local, ela deve ser tratada com urgência em um ambiente esterilizado para evitar infecções.
➡️Impacto no corpo

Lobato explicou que o contato com a corrente elétrica pode causar queimaduras na pele. Mas, a maior preocupação é com o impacto nos órgãos, músculos, vasos sanguíneos, ossos e até no cérebro.

“Não é só o problema circulatório da amputação [veja mais abaixo]. Precisamos ver se essa criança não teve lesões no pulmão, rins, fígado e até no osso, além das sequelas cerebrais. Ou seja, é uma coisa mais grave”.

➡️Amputação

Com o choque, Armando explicou que os vasos sanguíneos são queimados e formam coágulos que impedem que o sangue chegue até os membros para fazer com que eles continuem funcionando.
“A pele morreu e nós conseguimos recuperar esse tecido pela circulação de sangue. Mas, ele também perdeu porque não teve sangue para uma criação de novos tecidos. Então, não tem outro jeito a não ser amputar”, disse o médico.

➡️Risco de vida

De acordo com Armando, a necrose [morte] da pele é fonte de alimento para as bactérias. Por este motivo, o paciente tem mais chances de ter um choque séptico.
Outros choques

O engenheiro Alexandre Shozo disse que os choques elétricos em residências ocorrem com certa frequência. Ao g1, ele citou os principais locais que ocorrem este tipo de acidente de 127v e 220v:

🚿Chuveiro: ocorre devido à falta de aterramento elétrico, que uma medida de segurança que garante o bom funcionamento dos equipamentos conectados a rede elétrica, ou pela utilização de chuveiros de baixa qualidade. Neste caso, o disjuntor diferencial [dispositivo de proteção] pode evitar o choque.

🧊Estrutura da geladeira: falta de um sistema de aterramento associado a um defeito no equipamento pode causar um choque ao tocar no eletrodoméstico.

🔌Fiação de extensões ou cabos aparentes: um cabo com a isolação danificada pode causar um choque mais grave

💡Troca de lâmpadas: o local onde são encaixadas as lâmpadas ficam parcialmente energizados mesmo com o interruptor desligado. Portanto, é indicado que a alimentação de energia do local seja desligada para evitar choques.
O professor destacou ainda que, em todos os casos, o ideal é procurar um profissional que saiba fazer as manutenções necessárias.

Cuidado com o coração

O médico Armando acrescentou que as queimaduras não são uma preocupação com estes choques elétricos de menor intensidade.
Nestes casos, segundo ele, o risco é a arritmia cardíaca, quando os impulsos elétricos do coração não funcionam corretamente. Segundo o especialista, não é comum, mas pode levar à morte.

Fonte – g1